domingo, 29 de janeiro de 2006

Meu olhar

Entornei meu olhar
em meu sentir

Caiu em fluência
um sorriso ameno
que se enrodilhou
com o sentir

E assim ficaram
os dois
enternecidos...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Lisboa e o Tejo

Sei porque estou aqui
olhando tuas águas
Os raios de sol
que te acariciam
são o pincel dum qualquer pintor
que mistura tonalidades
que se perdem nas águas

Ao pôr-do-sol
Sei que te amo Lisboa
e esta aragem
glacial e intensa
molda os contornos
em linhas correctas
da cidade junto ao rio…

Sei porque estou aqui…

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Termo

Não posso protelar o fim
Leva
Meu sentir
Espalha meu desvario
Semeia
Meus sorrisos dispersos
Colhe as tardes
Vazias de mim
Quero estar só
Apática
Sem disfarce…

Não queria
Mas tudo chegou
Ao fim..

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

E canto

O sol que acalenta a cidade
esquecida e longínqua
neste dia de Janeiro
minha voz ecoa nas profundezas
das palavras soltas
pelas notas que se traduzem
em balada

e canto
esta canção de paz e esperança
ao longe um som de piano
acompanha-me sem saber
e sem querer o mar
lança seu som em cadência
nas letras desta
balada…

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

Esboço II

fiz um esboço no papel
completei espaços
com cores azuis
brancas
um pouco de rosa pálido
caiu uma lágrima
negligente
o papel enterneceu-se
e espalhou-a sobre
a superfície
e ficou uma pintura
com toda
a coloração do arco-íris...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Esse dia

Este dia. Recordo sempre as mesmas palavras
Adeus. Vemo-nos por aí…

Esse dia eu só queria reter um olhar
E só isso me bastava. O teu olhar…

Esse dia. Senti um peso em meus ombros
E fiquei.A olhar o carro a esgueirar-se na curva…

Este dia. Evoco tudo e a luz fere-me
Os olhos. Que fecho calmamente…

Esta noite. Olhei o meu leito vazio de ti
Oiço um eco. Adeus. Vemo-nos por aí…

© Piedade Araújo Sol  16/01/2006 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Tela Nua

Desfilo tonalidades que
poisam na tela
despedaço cores
e intento formas
Sulcam ali como pedaços
de mim
Reflexos de ensejos
Lembranças opacas
Sentires despidos
soltos na tela…

Imagem: http://lostwordsite.blogspot.com/

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Na praia

Ando perdida nas areias da praia
É tarde e sinto frio
Meus pés descalços, sustentem meu corpo
tão leve e que se tornou
tão pesado
A lua escondeu-se, e só consigo visionar
as estrelas cintilantes, começo por
escolher a mais brilhante
e baptizo-a como meu anjo da guarda
O meu anjo que me protege
neste areal imenso
É tarde, e sinto medo
mas a estrela que eu escolhi
parece sorrir-me
E sem querer, eu dispenso o medo
e mesmo perdida
entro na água gelada
e limpa
E completamente molhada
sinto que afinal, não estou perdida
estou simplesmente à espera
que nasça uma manhã cheia de sol...

sábado, 7 de janeiro de 2006

Na noite o sonho

Jamais serás somente uma fracção deste sonho
Sem saberes teu jeito ficou impregnado
no espanto traduzido em espasmos multicores
das cores feitas em laivos de calor,
saberes e odores,
retribuídos
na placitude da noite....

terça-feira, 3 de janeiro de 2006

De passagem

A vida passou por mim
Eu não passei pela vida
Eu assassinei o sonho antes
Dele acontecer, e ele feneceu
Á mingua de sede
Eu fechei a porta
Quando a deveria ter escancarado
Para o sol entrar
E me deleitar com seu calor
Eu calei, e deveria ter gritado
Ter dito não, quantas vezes
Fosse necessário dizer
Mas eu disse não , pensando sim
Eu disse sim, pensando não
A vida passou por mim
A morte passará também
Meu corpo se transformará em pó
E minha alma
Voará para o além....

segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

Anteface


É tarde.Olho o relógio de pulso, são 23 horas e 45 minutos. Meto a chave e abro a porta de casa. Atiro os sapatos com irascibilidade para o chão, e peça a peça a roupa cai sobre a cadeira estofada em veludo azul, que se encontra no meu quarto de dormir.
Tenho fome mas não me apetece ingerir qualquer alimento. Só de pensar em comida o estômago parece que se enrola. Acho que estou a ficar anoréctica. Vou à casa de banho e peso-me. Tenho menos 6 kg. Olho-me ao espelho e nem me identifico. Vejo uma loura esquelética. Sinto-me triste e só.
Estou numa casa enorme, tão enorme e tão fria de afecto. A gata entra precipitada e sobe para a cama desfeita da noite anterior. A cama fria, tão grande quanto fria. Aliso os lençóis, nem sei porque lhe quero dar um ar de conforto se nada me conforta já.
Estou fatigada, o dia foi extremamente extenuante, mas fértil em dividendos, nunca tive uma situação financeira tão desafogada. Tenho tudo, e no entanto nada tenho.
Num impulso, quase involuntário, pego no telemóvel e disco o número dele, ligo. Ele atende de imediato, nem me reconheço, mas é a minha voz que implora.
-António volta para casa.
E oiço do outro lado o que não quero, e sabia que poderia ouvir.
-Cristina, essa já não é a nossa casa é a tua.
Balbucio palavras incoerentes.
-Amanhã vou para Bruxelas, tira uns dias e vem comigo.
E volto a ouvir do outro lado a voz dele, pausada, segura, cortante.
-Cristina tu escolheste! Eu já não faço parte do teu mundo.
Tento argumentar, mas ele desliga.
Abro a mala e tiro a passagem, verifico a data. Tenho de arrumar as coisas que vou levar.
Amanhã sigo para Bruxelas, tenho uma maratona de reuniões marcadas e previamente estudadas, até ao último pormenor.
Sorrirei com o meu melhor sorriso, mas diligente e frígida como o gelo, tentarei levar a bom término todos os objectivos que ali me levam.
Tiro a mala do roupeiro, e meticulosamente arrumo os meus fatos de executiva, separo os sapatos a condizer com as roupas, tiro do armário da casa de banho os meus batons, os perfumes os cremes e arrumo-os no necessaire.
As lágrimas caem-me em catadupa. Tenho medo de não conseguir parar de chorar. Olho a minha mão esquerda. Porque diabo ainda uso a aliança?Tiro-a e coloco-a no guarda-jóias, mas faz-me falta no dedo e volto a colocá-la.
Tenho tudo o que sempre quis e pelo qual lutei, e afinal tudo se resume a nada.
Ponho um CD, em alto som e tento acompanhar a cantora, canto, canto e meu canto se desfaz pela noite dentro, meu canto transformado em grito, que ninguém ouvirá ecoa abafado ao som da voz da canção ....
-António...
Atiro-me para cima da cama…
Tenho de dormir…
Amanhã vou para Bruxelas…

domingo, 1 de janeiro de 2006

Mistura

Misturei, odores, sabores, calores, amores
Ficaram fracassos, desamores, dores
Estilhaçada, sofrida, partida vencida
Encerrei, desejos, pejos, beijos
E parti....