quinta-feira, 30 de março de 2006

Nesta madrugada (Poema a 4 mãos)


Nesta madrugada sem sono, nem sonhos
Igual a tantas outras
Olho o mar que me acordou
Com o seu lamento triste
E entoo baixinho, este fado
Que a vida me ensinou.
Olhando a pauta, e as notas
Em gestos repetitivos
Dedilhando uma guitarra
Muda
Que nada emite!
Queda e triste como um lamento
Nem sons nem gemidos
Nem ais por ti
Só meus pensamentos sentidos.

Reparo que nada tenho
Reparo que nada sou
Nem guitarra, nem canção
Ou a sombra de mim
Só o mar entoa o seu canto
Um cantar dorido
Que me embala lentamente
Como a mãe embala o filho
Nos seus múrmurios secretos
Conta-me segredos tais
Cadenciando nas ondas
A surpresa
A desordem do meu espanto
Tal é o estado de pranto
Nesta madrugada expectante

(este poema é uma parceria de Piedade Araújo Sol e João marinheiro ausente )

terça-feira, 28 de março de 2006

Não quero

Não quero ouvir as palavras
que teimas em me fazer ouvir
Não precisas
porque já as sei
antes mesmo de as escutar
Não quero este pesadelo
transformado em solidão
Não quero!

Quero a liberdade
Quero a claridade do dia
com o sol
a me lavar os cabelos
soltos ao vento….

sábado, 25 de março de 2006

O Copo

de balão
sobre a mesa
semi cheio
de brandy
Um trago
falso calor
amargo sabor
prolonga a
dor...

terça-feira, 21 de março de 2006

Gavetas

Abro as gavetas
Nem sei que preciosidades
Ocultas
Elas encerram no seu intimo
Alinho as ideias
Tento deslindar os liames
Quais fitas multicolores
Colocadas nos segredos
Ali amachucados

Abro as gavetas
Só agora... reparo, ali
Há um fundo falso
Minhas mãos tacteiam
Mas, paralisam no ar
Esse gesto de descobrimento
E recuo... amedrontada
Não quero ver
Velozmente
Fecho as gavetas

Neste ar que a luz filtra
Ergue-se uma poeira de ouro
Feita de leveza
Minhas mãos sustidas no movimento brusco
Olho-as
E guardo para dentro
Para lá delas e do fundo falso
Esquecido
Como essa esperança que não acabou
Mas será sempre nossa

Guardo
Dentro do peito
Por entre o reflexo
Das mãos ardidas, que imóveis
Tremem
A vã eterna carícia
Recordar ainda e
Sempre, com este amor
Do falso fundo de esquecimento

Abro as gavetas
Fieis portadoras de todos os segredos
Liberto pedaços da alma ali
Encerrada
Cadáver na penumbra doce
Onde se acumula esse pó de ouro
Restea de um futuro que não existiu
Ainda
E contudo, emaranhados, ali
Ficamos... Nós

Abro as gavetas
E este peito aberto de outrora, rasga-se
Por inteiro
Não te segui os passos na tranquila coragem
Dos loucos, e o meu coração teria sido leve
Como este pó – de ouro – que se ergue
Quando sem esperança, fecho as gavetas
Finjo esquecer esse fundo falso
Que contem a irredutível verdade...
E deixo guardado...
Intacto
Nestas gavetas que as mãos trancam
E apenas a alma pode abrir....
Deixo…….


(Uma parceria de Piedade Araújo Sol e Ar em 22/25/08/2005)

segunda-feira, 20 de março de 2006

Foi sonho somente

Penso e sei...
Com os olhos semicerrados
Deslizo meus dedos
Na maciez da epiderme
Ondas de desejo
Inundem-me sigilosamente
Tudo deixa de existir
Para dar lugar à volúpia
Envolto na fascinação
O momento repartido
Na noite calma e gelada
Dois corpos em desalinho...


(Pode ser lido também de baixo para cima)

sexta-feira, 17 de março de 2006

Cai a noite

Cai a noite
seu manto estrelado
cobre minha placidez

Minha mão ágil
escreve nas entrelinhas
que se interpelam de doçura

As estrelas cúmplices
dos meus devaneios
sorriem na noite

Cai a noite
e respiro o ar
com cheiro de maresia

terça-feira, 14 de março de 2006

Segredos

Rodopio nas nuvens fofas
imensas, belas e traiçoeiras
onde atiro meus sorrisos

Levo comigo meus segredos
indisfarçados de mistérios
perdidos nos pensamentos
e nos meus devaneios…

sábado, 11 de março de 2006

O espelho

O espelho oval transmite um inocente momento. a cor da tarde, reflecte sorrateira a luz que entra e incide sobre as magnólias expostas na penumbra da sala. o silêncio toma conta de tudo, como se fosse uma paragem num tempo embriagado de perfumes espalhados de ternuras na sornice duma tarde que se esperava fria.
O espelho não mente....

terça-feira, 7 de março de 2006

Farsa II

Não suporto o peso desta mentira
E carrego-a
Me enganando
Me iludindo
Me ferindo
Quem dera que fosse
Só um pesadelo
Mas não é
E eu sei que não
Debato-me
E tento expulsar
Esta mentira
Mas
Ela persegue-me
Como se fosse
A minha própria sombra
Não suporto o peso
Desta mentira...

sábado, 4 de março de 2006

SMS

Somente para dizer, que viver é bom
Mas não sei que faço aqui
Sentada no tempo...esquecida...

quinta-feira, 2 de março de 2006

Instante

Aqui nesta margem
onde as águas reflectem
meus sonhos incompletos
vejo algo se desvanecer em cristais de gelo
Tão serena me sinto
tão calma me transformo
A aragem que passa me roçando os cabelos
traz ecos inconfundíveis
em jeito de música
onde o som do violino
sobressai como um gemido
que se infiltra em meu ouvido
cansado de nada ouvir…