segunda-feira, 25 de setembro de 2006

o anjo com algas



Sua aureola de querubim
É feita de algas
Translúcidas e límpidas

Seu sorriso maroto
Lembra as tardes de Outono
Com cheiro de terra molhada

Seu corpo pequeno e esguio
De anjo sem mácula
Lembra a clareza da luz

Suas asas lembram
O voejar das abelhas
À procura do mel

Querubim com
Aureola de algas
Que parece voar
Para me beijar a face...

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

prece com lágrimas


este sentimento é uma mescla de saudade
impregnada nos sinais da minha rotina
que se renova, dia após a noite
iniciando um e mais outro ciclo

esta saudade é um remoinho de lembranças
impressas em pequenos nadas
que se formam em mil partículas
inundando os espaços ainda vazios

este sentimento feito saudade
que se transforma numa prece muda
uma súplica salpicada de fé
esperança, e, sal...


(foto de Rita Araújo)

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

cinco horas da madrugada



Não sei porque escrevo
a esta hora tardia
Talvez porque não me
apeteça dormir
Ainda...

E é tão tarde!

Não sei porque escrevo
a esta hora
Talvez porque não são horas
de sair
Ainda...

E é tão cedo...

madrugadas


a magia
das cores que me envolvem
são
um esboço
das madrugadas....

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

um puzzle

Quantas vezes
já fiz este puzzle?
Dezenas!
Sobra sempre
uma peça
que sou
eu…
(foto de nest1)

sábado, 16 de setembro de 2006

este poema


este poema,
não pode ser só mais um poema,
nem será.
este poema é uma parte de mim em ti,
e eu estendo-a na planura do papel,
como uma mãe deita um filho no seu leito com mil cuidados e ternuras sem fim.
este poema escrevo sem letras pensadas nem procuradas,
são só as letras que lês e não entendes porque as lês,
são um paradoxo de palavras enfeitando os teus cabelos finos e macios como veludo,
que se confundem nos meus dedos entrelaçados na madrugada que caíu sobre mim e sobre nós.
este poema lembra o tempo junto ao rio,
quando eu não sabia que o rio estava perto de mim e de ti,
e que o poema nem existia na planura do papel.
por isso e por tudo o que não sei explicar e tu não irias compreender,
este não é mais um poema é só um e mais um que guardo para que o lances ao rio...

(foto de Graça )

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

ela voltou sorrindo

ela chegou sorrindo ...

e trazia nas mãos
um archote de luz
e com a luminosidade
fez um poema
o poema
era a luz do archote
que se misturou com a fragrância
da tarde que caía vagarosamente...

ela trazia nos olhos
o brilho dos pirilampos
e eles
só aparecem à noite
e ela da tarde fez noite
e da noite fez dia
e quando olhou
para as mãos
o archote tinha-se transformado
num facho de
amor e paz...

ela foi embora sorrindo
(foto de José Meneses)

terça-feira, 12 de setembro de 2006

E...

Ela disse:-Nunca me julges
Ele disse:-Eu não sou juíz
e…
as palavras perderam-se
nas bocas cerradas
nos abismos
dos desencontros
nos refúgios dissimulados

e ...
as palavras perderam-se
amedrontadas
esgotadas
acossadas pelo medo
e pela aflição

e ...
esta escassez de luz
faz-me querer que
o dia não acabe
abro lentamente a janela para
visionar a
luz que foge

e...
nada há para julgar
porque somente restam
os silêncios
um olhar ausente
e uma lágrima que cai…
(foto de Sérgio Redondo)

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

a estrada

meus passos solitários
conduzem-me
ao longo da estrada
tortuosa e imensa
sinto calor
e meus pés cansados
arrastam minhas derrotas…

(foto de:Abbas Kiarostami)

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

cada cidade diferente

(para a Alexandra)
cada cidade diferente
tinha ecos de passos
que deslizavam
entre as ruas e os jardins

cada cidade diferente
tinha flores exóticas
ruas quase iguais
rostos silenciosos

cada cidade diferente
acolheu os ventos inesperados
e os passos perderam-se
nas ruas quase desertas
e nas cores azuis das marés...

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Sei que sonho!


Subo vagarosamente os degraus
comovo-me, e por momentos
Sei que sonho!
Agarro a tua mão, e sinto-me segura
livre e feliz
a tua mão, guia-me, é macia e terna
Não sei quem és
nunca te perguntei, não importa
quem és, quem foste, quem serás
nada interessa, agora
senão subir os degraus, que nos levam
ao desconhecido de outras eras
Sei que repartes comigo os teus cigarros, e eu deixo-me
levar ao sabor da tua mão, e arrisco
cogitar que seria bom nos perdermos
os dois, ao terminar a jornada
Ao chegarmos ao cume
eu desprendo a minha da tua mão, e ambos
abrimos os braços respirando o mesmo ar
envolto em mistérios e cumplicidades.
não sei quem és, mas, agarro novamente na tua mão,
aperto-a na minha e
começo a descer sem pressas
Sei que sonho
Por breves segundos fecho os olhos
para melhor
guardar as linhas do teu rosto nos meus
pensamentos, vivas como fogo em labaredas
Sei que sonho
Mas…estaria a mentir se dissesse
que tu não existes…

sábado, 2 de setembro de 2006

tenho...


tenho um poema escrito
nas gavetas do tempo
que recuso abrir
com medo de o perder...