terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Deixa-me ser o teu presente



Deixa-me... deixa-me ser tua
cerrar os olhos e sentir o sabor
da partilha nos meus lábios
acorrentados aos teus

Deixa-me... ler-te como se fosses
uma brochura que reconheço
sem tão-pouco virar
as páginas revividas de tão lidas

Deixa-me... perdurar no que não dizes
pois eu sei
recordar o teu feitiço
mesmo que nem esboces um sorriso

Deixa-me.... esculpir a ferro e fogo
tudo o que em ti existe
ou em raios laser
cinzelar-te completo para mim

Deixa-me…
deixa aconchegar-me
toda em ti, sentir-te tão perto
tão meu, tão conivente que no futuro
ninguém nos possa separar

Deixa-me… deixa-me ser o teu presente



2008/01/29

(A foto é do Carlos Silero)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Pensamento

É cedo demais para nada .
.
É tarde demais para tudo.
.
(A foto é da Kobieta)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Sem resposta

Que ficou do meu corpo,
Na serenidade do teu,
Da afectuosidade inteira
Da nossa partilha…?

Que ficou de mim
Nos ensejos, nos desejos,
Que alojados se demoram
Nos dias desarrumados…?

Que ficou de ti em mim
Agora que a memória
Está pálida e desviada…?

Que trago hoje para te brindar
Se já nada tenho,
Se algures por aí tudo perdi…?
.
Fonte da Telha,2008-01-24
.
(A foto é da Joana Reis)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A lengalenga das mãos


São macias as tuas mãos quando me acariciam o rosto.
O meu rosto é tudo o que as tuas mãos acariciam.
São macias as tuas mãos quando se entrelaçam nas minhas.
As minhas mãos são tudo o que as tuas mãos acariciam.
São macias as tuas mãos quando acariciam o meu corpo.
E o meu corpo é tudo, tudo o que as tuas mãos acariciam.




(Foto:desconheço o autor)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Tela de divagação

Quis delinear o teu corpo
Numa escultura feita na tela
Mas o teu corpo não é para
Ser esculpido
Nem para ser pintado
Em qualquer lado….

Decidi amar o teu corpo
Num ritual quase profano
De pecado e oração
Mas tu não eras
Quem eu queria que fosses
Não existias, eras a minha utopia…

Quis beijar os teus lábios
Nessa tarde junto ao rio
Que no leito passava quieto
E eu estava só nas águas parada
Nessa margem de ti onde as gaivotas
Se enamoravam sobre a minha cabeça….

Resolvi lançar às águas
O meu devaneio em naufrágio
E fiquei a ver sentida
O rodopio de lágrimas
Onde entornei
O meu talento de escultora ...

E apenas pintei o poema
Salvo na tela da divagação...


2008/01/16
a foto é do Alex Bec

sábado, 12 de janeiro de 2008

Um poema quase erótico



Descobri-me em ti
Renasci no teu corpo
Que procurava o mel
Sobre o meu ventre
Campo de flores maduras...

Fomos mecha de labaredas
Num amor que nos consumia
Numa enxurrada de lava
Feita sede de paixão
Desregrada e alienada...

Descobri-te em mim
Fundeado
Qual porto de abrigo
Em águas revoltas
Salgadas, quentes e limpas...

Fomos marés desavindas
Corpos em delírio
Explosões de sentidos
Cheiros impregnados
Na tarde caída...

Não sentimos a chegada
Da noite
Descobri-me em ti
Tu em mim
Eu em ti
Descobri-te em mim
E não sentimos a chegada
Do dia...

Lisboa 2008/01/12

Foto: Galeria Pessoal - www.paulocesar.eu

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Memórias





Agasalho em mim


esse emudecimento escorrendo


em filigranas de enternecimento


nesse tempo


esfarrapando as manhãs


já tão desviado


e para mim tão próximo


guardo em mim


esta ambição de voltar


a esses silêncios


envolvidos


em tanta cumplicidade


que faz com que eu


sinta as minhas pulsações


como se de um pêndulo


se tratasse



Agasalho em mim….



© Piedade Araújo Sol


Funchal, 10/08/2005


Foto:Emanuel Oliveira de Olhares .com

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estou só

estou só numa sala vazia.o filme acabou há muito.eu apenas nunca gosto do final.percorro outras salas.o mesmo filme.o mesmo fim.e eu continuo só numa sala vazia.


Foto:Graça Loureiro

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terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O Poema do Jornal

(À memoria do meu pai)

Recortaste do jornal
Emolduraste
E
Penduraste o meu poema
Na parede
Pintada a cal branca
Da sala de jantar
Junto ao teu diploma
Do saber, de navegar

Havia cheiro de acácias
Que se misturavam
Na visão do poema
Pendurado com amor

Ainda hoje a poesia
Tem o cheiro verde
Das acácias
E o pólen funde-se
Nas palavras que escrevo

Faz tanto, tanto tempo
Hoje esse poema não existe
Partiu contigo num dia cortante e frio
De Janeiro

Hoje não te tenho
Nem tu tens poemas
Nos jornais

Não tenho nada!
Mas perduro no amor
Que por ti tenho
Mesmo sem o poema
Pendurado na parede...