terça-feira, 31 de março de 2009

Quero amar-te devagar


Quero amar-te devagar
Ao lusco-fusco de todas as tardes, desenhar ternuras
Na tua pele morena
Em aromas de mar e sal.
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Quero amar-te devagar,
Navegar sem rota, sem bússola,
Apenas sentir o sabor do fogo
Nas margens e no sentir do teu corpo.
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Quero amar-te devagar
Enroscada em ti, na posição fetal,
Sentir perto das narinas os teus cabelos finos
.E assim me deleitar.
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Quero amar-te devagar…

.Foto: dzik notecki

terça-feira, 24 de março de 2009

não me magoa o teres partido.

não me magoa o teres partido. por ser inevitável. magoa-me tentar gerir o estado caótico em que deixaste toda a minha filosofia de vida. por teres esfrangalhado todos os meus sonhos em mil cacos. por nunca mais conseguir recuperar os pedacinhos que se estilhaçaram dentro e fora de mim… é só isso que me magoa. por nunca mais ter esses ínfimos fragmentos reunidos, inteiros e nos seus lugares.
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não me magoa o teres partido, como não me vai magoar o regressares. porque isso também é inevitável.
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Foto:niedostępna

terça-feira, 17 de março de 2009

A quietude das águas

O poeta chegou em Março, com o frio e a neve ainda no sangue.
Pediram-lhe que falasse da quietude das águas.
Ele sorriu, porque sabia que do sossego
nada sabia. Nele, só existiam inquietações e tormentas.
O poeta olhou o céu e sentiu frio. Foi nessa altura que se olhou, já de pé, num banco de pedra.
E falou do choro dos outros.
Alguns repararam que o poeta estava completamente nu.

©Piedade Araújo Sol 
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Foto_MPA

terça-feira, 10 de março de 2009

das letras inventadas por mim

Aprendi a dançar com as letras. A inventar palavras novas. Aprendi a sorrir com o olhar e o coração, e ninguém me pergunte como se processou essa aprendizagem porque eu não sei, nem tão pouco procuro as respostas. Aprendi que, quando quero, desfraldo a inspiração e as letras caem como pingos que molham transparências, por vezes em mim obtusas. Aprendi e desaprendi em ecos que oiço sem ninguém falar.
Um dia falaram de uma ilha. Eu pensei que falavam de mim. Porque não sei se nasci numa ilha ou se várias ilhas nasceram em mim. O meu nascimento é uma incógnita e ainda ninguém me soube explicar os meandros desse mistério, nem quem me ensinou a dançar envolta em véus de tule, festejando rituais em aguarelas esbatidas numa Grécia Antiga ou numa Atlântida desaparecida.
Aprendi e desaprendi, mas continuo a minha dança arrebatada e incansável num mundo utópico de letras inventadas por mim…
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Foto:niedostępna

terça-feira, 3 de março de 2009

arranquei

arranquei silêncios com labaredas esfaimadas no teu corpo desenvolto. que em transe desfez a pureza no pecado que morreu na solidez do desejo…
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Foto:Robik