terça-feira, 30 de junho de 2009

Passos

Os meus passos andam intolerantes
arredios da luz, e dos caminhos normais.
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Não os comando mais,
não me obedecem.
Tornaram-se ainda mais ligeiros,
esquivos e indomáveis,
calcorreiam em caminhos

de musgo, onde antes só lodo existia,
por vezes fazem-me sentir
como se fosse uma
uma paleta de cores indefinidas .
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Eu queria ter a respiração,
das plantas, e dormir
com a serenidade das águas,
e assim sossegar meus passos.
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Foto:Ttrrrrrt

terça-feira, 23 de junho de 2009

Existes em mim

Existes em mim
preso como hera, e penso que
podias ser a réstia dum sonho
que ainda mantenho comigo, nas mãos
que entrelaço, e com que seguro o rosto.
semicerrando os olhos, para melhor
a tua imagem reter.

Levo-te comigo, para todo o lado
aconchegado, polvilhado de afectos
e sei, que não és presença nem sonho
no deslumbramento da minha verdade
com que te sinto e inspiro
qual aroma importuno e inconfundível.

Resumo, e tenho os olhares que dei,
e que fui presenteada, de todas as
tardes frias e quentes que não esqueceram
com as mãos entrelaçadas, e o abraço.
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aquele abraço!
irrepetível
nas margens do meu (?)mar.
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Foto:silvia-ana

terça-feira, 16 de junho de 2009

Na mágoa das tuas palavras

Na mágoa das tuas palavras
desdobro as folhas com
cheiro a cor do silêncio
paira um vislumbre seco

no odor do teu olhar
verde e por vezes negro, e
sinto a noite que não se escreve.
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Queria tecer com seda,
mas no linho do teu vestido
não consigo vivacidade, e
nos tons neutros do teu sono
sou um fantasma, com água e terra
planto um plátano sem chave
que cresce no espaço aberto
do céu que se abraçará no mar
e renascerá quiçá um sorriso no teu rosto.
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Poema de © Piedade Araújo Sol e PAS[Ç]SOS
http://pacosdagua.blogspot.com/
Foto:Kiki 123
2009-06-16

terça-feira, 9 de junho de 2009

Portas

Fecho portas.


Não há espaço no meu silêncio, para escrever o dia que se desvanece. A mágoa renasce nas lembranças cor de cinza que flutuam escarnecendo de mim.

A mágoa não tem cor.

As portas fechadas, são páginas despedaçadas, que as trevas encobrem nas masmorras bafientas e terríficas.Não as vou abrir.

Deitada no silêncio, forçado, eu respiro, defronte da praça repleta de plátanos, que soltam algodão esvoaçante dos seus frutos maduros, que me irritam as narinas.

Talvez eu seja um plátano no meio da praça, mas, os plátanos não se vestem, como eu estou, com um vestido de linho em tons neutros de verde seco.

O sono é breve e desassossegado. Um cheiro de noite invade o dia.

Fecho portas, que já estão fechadas.

© Piedade Araújo Sol

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Foto:mniak

terça-feira, 2 de junho de 2009

foi em junho

subiste a alameda com o semblante reservado.

foi em junho, e eu estava sentada numa cadeira branca, que até podia ser de outra cor, mas era branca, desmaiada e sem vida aparente.
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as cadeiras não têm vida.

trazias a curiosidade espalhada no olhar ensombrado de incertezas. os passos cadenciados, ligeiros e quase assassinos.

os passos podem ser possíveis assassinos.

escrevi o teu nome emaranhado em forma de acróstico num livro, que se perdeu na estante onde repousa junto com a poeira, quieto e esquecido.

e tu sorriste, os teus olhos resplandeceram e a tua presença, foi o melhor presente que me aconteceu.

e ainda hoje junho traz com ele o teu sorriso.
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foto:netiee