terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Volúpia

Um punhal – lascado
Alojado no tumulto das constelações
Perdidas em espelhos de água
O júbilo colado ao medo
E bebo a tarde nas gotas da chuva
Que cai - imperiosamente
sobre nós, e a cidade
- a tua -
o teu corpo nú
molhado.
Contra o meu - na tarde.
E a boca – sequiosa -
-sabor de mirtilos-
Aroma de violetas – além
O vento frio, o cachecol abandonado
A velocidade do respirar
E
Serenamente – o âmago do medo – oprime
A chuva mais forte
- fulminando-
Os olhos semicerrados
De paixão – chama-lhe volúpia.
As sombras. Una. Faúlhas soltas. Esquecidas
Lívidas
Teias de ecos
Repercutem-se
A alegria grudada ao medo.
Foto:mindowy

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

a luz que nasce nos teus olhos

A luz que nasce nos teus olhos
lembra o voo dos pássaros.
.

E nos teus lábios eu leio
a liberdade empunhada
em vertigens de doçura.
.
Estamos em sintonia
nas centelhas reclinadas
Que amordaçamos em sigilos
duma poesia ingénua
entranhada de palavras
que lembram estrelas
em noites de lua morna.
.
Porque queremos juntar
o voo imprevisível dos pássaros
no cosmos da recordação
efémera de nós!
.
Foto:Almaro

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Anda comigo desafiar os vendavais



Anda comigo desafiar os vendavais Até perdermos as forças completamente Por entre as tormentas recíprocas E cairmos no chão embriagados Pela beberagem de líquidos inócuos Mas impregnados de venenos diluídos.
. Traz a tua capa de aprendiz de marinheiro E com o teu olhar arguto Analisa as cartas de navegar E deixa o leme nos acarretar Ao sabor da bússola parada Deixa que a energia do teu olhar Que alicia e deslumbra o meu Corpo faminto em madrugadas lentas Seja um lençol de fios de água fria Onde as tuas mãos acabam sempre por aportar. Vem comigo incendiar as marés e queimar as areias das águas que o mar nao se cansa de refrescar!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Monólogo da ária do mar



não sei cantar as árias da água translúcida
mas conheço as cores e a fragrância do mar
em dias de temporais.

habito na salsugem que na praia se derrama
e sou temporal em calmaria
torrente inesgotável de trejeitos na
tarde habitada pelo vento, e talhada para mim.

sei que as lágrimas têm o sabor do sal
e eu gosto do sal das águas,mas não gosto do sal das lágrimas
por isso, sei chorar e não gosto, e por vezes – muitas - afogo a vontade de chorar, nas águas do mar.

dizem que a praia é um tapete feito para mim,
e eu acho que a areia é da cor dos meus cabelos,
e por isso eu tenho olhos cor de mar, que alimenta o mal
de querer ser sereia em mar alheio, e guardada por Posídon
armado com seu tridente,
eu habito neste lugar onde as árias ainda estão por cantar.
.
Foto:Alex_K

um leve

Um leve gotejar, acorda a manhã
Que teima em não querer acordar
.


As águas liquidas. As mãos.
Enregeladas
A dor no peito a latejar


.A manhã vestida de silêncio
O frio a cortar os segredos, a chuva
a lavar as sombras.


A fragrância da mágoa,
colorida de névoa laminada
A porta! Labirinto de horizontes
.


Empoleirada no tempo
A manhã totalmente desperta

Respira destinos.

E vou no ribombar dum trovão
Esquecendo a dor, num raio de luz
Deambulo às cegas com destino certo
E alma totalmente vazia!.

.©Piedade Araújo Sol 
Foto:Kankai