terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Não importa


Não importa…
Da tempestade, o destino almejado dos
Sargaços impuros e, das algas desavindas
Em querer apenas repousar no aconchego da
Areia da praia…
Não importa a violência
Das vagas, em dias de temporal.

Não importa, quando
Envolta nos sonhos – meus -
que se encenam frente à fúrias das
Águas
Não importa o frio, que me embaraça
Os movimentos,
Se nem assim, eu deixo que a minha vontade
Os possa, por momentos, aniquilar.

Não importa o sarcasmo, das palavras soltas,
A prancha de surf abandonada – além…
O sal que se entranha na pele
A maresia em odores silentos
Nada importa enquanto houver esta
Dança – minha – na metáfora do poema.
Não importa que
A caneta se derrame…


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Uma praça cheia de tempo


Uma praça cheia de tempo
Desencontrados sempre.
Sentada num banco verde de madeira.
As lágrimas teimosas - soltaram-se.
No ar o pregão
Da mulher das castanhas
O cheiro a fumo, a infiltrar-se no cabelo solto. Lavado. Louro.
O olhar fixo
No asfalto sombrio, escuro. Ocre.
O grito trucidado na faringe
E o corpo levantado, os passos sonâmbulos
Morosos.
Desequilibrados.
Anos mais tarde. Alguns. Muitos.
Uma praça cheia de tempo e gente anónima
Um abraço. O olhar. Recíproco. Ansioso
Uma mesa – com tampo de vidro
Um reencontro
As mãos unidas, macias, quentes, dentro das luvas.
O odor entornado no cabelo curto - curtíssimo
A pele a explodir sob a roupa
A música – inaudível
E a tarde a rebentar e a desprender-se
Da praça e do tempo
Ambos, agarrando as trevas brandas – brancas
Ignorando a praça – duas estátuas
Que renascem devagar.
.

Foto:silvia-ana http://plfoto.com/zdjecie,inne,bez-tytulu,2026798.html

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Nas areias desta praia...

Nas areias desta praia
jaz o meu corpo,
sem lençóis de linho
amortalhado,
à espera do toque das tuas mãos,
do sabor do teu beijo,
do calor dos teus braços.

Os meus olhos, fechados,
contêm a raiva de uma saudade
que não se esgota na noite,
nem no amanhecer.

Apenas num corpo,
o teu,
que ainda não chegou!

Depois podem vestir
este corpo que morreu
à mingua de tanto te esperar.
.
Foto:Martskon

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Eu sei que sempre...


Eu sei que sempre te vou escrever ao terminar o dia, sossegada, quando o corpo cansado já não tiver forças para mais nada, a não ser a necessidade de falar para o papel, mesmo que eu saiba que tu nunca irás ler.

Sei que sigo sempre este trilho, como que guiada através da luz que emanas do teu olhar e que eu retenho em mim. Guio-me pelo aroma dos nardos que deixaste pelos lugares que ambos partilhámos.

E sei que quando os teus lábios procurarem outra boca que não é a minha, lembrarás sempre o sabor dos beijos que trocámos com o inconfundível sabor a romãs.

Sei que nunca dirás a ninguém “amo-te”, porque essa palavra já deixou de fazer parte do teu vocabulário, e se eu um dia voltar a dizer “amo-te”, será o vento que a ouvirá e tu pensarás que é do vento e não para ti.

Sei que quando a lembrança te for penosa, afastá-la-ás como um sonho mau do passado. E quando o canto das aves te lembrar a letra de um qualquer poema (meu) que falava muitas vezes das gaivotas e do mar, tu irás conduzir na marginal e só pararás no final do pontão da praia,e com o som do carro o mais alto possível, ficarás a trautear canções que te dizem muito e que para mim são apenas canções. E quando voltares para casa, adormecerás tranquilamente. No dia seguinte, acordarás calmo e feliz.

Eu sei que sempre te vou escrever ao terminar o dia e, ao acordares, talvez um dia (quem sabe?) leias o que te escrevo.