terça-feira, 29 de junho de 2010

memórias


Adentrarmo-nos , por sítios inóspitos

que cheiravam à resina

dos pinheiros

resignados e esguios,

amedrontados pelo vento

em tarde de

ventania, era a nossa perdição.

.

E ficamos sapientes

pela incessante procura

de esconderijos, totalmente misteriosos

sorrindo pela proeza

que saboreávamos com os olhos

semicerrados de prazer

que se queria verde.

.

Nada foi esquecido,

e ainda hoje trago, na memória

o tempo que ficou para além das colinas.

.

Foto:kiki123 http://plfoto.com/150316/autor.html

terça-feira, 22 de junho de 2010

Silêncio


Enquanto o silêncio não se exaurir
não será o lamento que eu retenho
buliçoso e estrangulado
Que desfiará as palavras
Submissas e amarfanhadas
que eu tanto queria audíveis.

É que eu não compreendo
Se este silêncio é um rio de águas soltas
Se é apenas um segredo que acautelo comigo
E que tu lês quando me fitas nos olhos
E ignoras sorrindo porque tens medo
E ele é ainda é maior do que o silêncio.

Mas sabes que ao escurecer, quando lá fora
Tudo esta no remanso do momento
Eu compreendo que é no silêncio
Que eu melhor te entendo
e novas imagens florescem
No futuro que vai nascer.

E neste calar e não querer abrandar
Eu sei que um dia o silêncio
Irá fenecer numa batalha acidental
Onde ambos afogaremos a nossa sede
E renasceremos novamente
Num raio de luz .
.

terça-feira, 15 de junho de 2010

No meu sonho


No meu sonho
O teu corpo é um cavalo-marinho
Ancorado num recife
Feito de musgo e sal

E tu dormes
Num leito
Inundado de algas
E aromas de coral
Em forma de verdes pedras

Eu sou uma guardiã
Desse espaço
Que te guarda e venera
Em cada alteração de marés

No meu sonho
Por vezes o cavalo-marinho
Transmuta-se em labaredas
Inunda as praias e
Fazem-se tempestades inesperadas

E no final a guardiã
É apenas um rio de água doce
Onde se apagam as chamas
Arrebatadas e rebeldes

No meu sonho eu sou ainda e só água.

Postado em 2010-Junho-15

terça-feira, 8 de junho de 2010

O Poeta



Pintou palavras desordenadas
Num coração desobediente
Insatisfeito e faminto
De novas cores

Pintou algas nos cabelos
Com palavras que se formaram sombras
Diluídas nas águas
Do poema

E ficou confuso
Ao limpar os olhos
E sentir palavras
Com gosto de cloreto de sódio.


foto: barnaba http://plfoto.com/139876/autor.html

terça-feira, 1 de junho de 2010

Tomba-me nas mãos


Tomba-me nas mãos
O rosto da noite
Que goteja sobre mim
Breve como um garrote – asfixiante
.
E vou descalça pela rua
Sufocada pelos naufrágios
Das raízes que ainda existem em mim
.
Tenho visões terríveis, da esquizofrenia
Que existe nos galhos
Adormecidos dos plátanos
Sob as constelações na outra margem
Onde não existem colinas
- sete –
Como na cidade inteira.
.
E tudo são labirintos – de ecos – surdos
Completamente despidos de palavras
E nas mãos, agora, retenho apenas
As pétalas rubras e perfumadas
Das manhãs que ainda (me) faltam nascer.
.
Foto:Marcepani