terça-feira, 26 de junho de 2012

palavras nuas ou/e/ o poder de um beijo


escrevo palavras nuas.

gostava de vestir as palavras com sedas e cetins, mas sei que é impossível, por isso abandono por momentos a escrita e fixo-me nas pessoas anónimas que deambulam na praia de areias amarelas como ouro em bruto.

oiço o mar que me enaltece a vista e começo a congeminar as rochas vestidas de lodo e algas.

não sei a ligação das rochas com as palavras, por isso talvez elas nem ligam ao mar quando as beija, uma vez sôfrego outras vezes dócil.

imagino-me por momentos traindo-me em onda espuma, que beija a pedra com a violência das marés.

fecho os olhos para melhor sentir o beijo, e tento fcar assim imóvel e de olhos cerrados.

não quero quebrar o magnetismo do momento, nem a emoção deste beijo onda-espuma-mar-rochas e eu-rocha-utopia.

eu a sonhar palavras vestidas perfeitas e coloridas.

eu a deambular pela praia e sonhar beijo e mar e palavras que podem e devem ser nuas.

© Piedade Araújo Sol 2012-06-26


terça-feira, 19 de junho de 2012

Tempo



Escrevo na tarde serena num volutear, como um duelo contra o tempo, tempo que desfaço em tempo para prolongar as cores do dia em mim.

Navego nas palavras, sílabas, virgulas, temas, como uma viagem-tempo onde não subsistem ventos, nem barcos onde tudo pode ser apenas e só palavras despretensiosas e sem sentido(?) escritas ao sabor dos dedos que se movimentam frios e lestos.

Que trespassam o tempo o sentido do vento e da vida, de mim e de nós,ou apenas de mim, e não desfazem novelos de vida que se embaraçam na nossa, e se desenrolam, que por vezes desaparecem de nós e de toda a nossa rota-viagem contra o tempo.


Na estrangulação de passos que não demos, de sorrisos que não esboçamos,de palavras presas que se suicidaram na faringe.


Escrevo na tarde que me envolve num abraço com cores desordenadas em que me deixo cercar, livre e serena e a respirar mar e sal, e em passos –outros- vou ao sabor do tempo em que me detenho.


Escrevo na tarde longe, afundada no esboço de uma tela onde a imagem reflectida é a minha mas, que o autor se esqueceu de a assinar.


© Piedade Araújo Sol 2012-06-19


Etiquetas: ,

terça-feira, 12 de junho de 2012

Êxtase

.
Para quando ao amanhecer o sol que
penetra pela minha janela
espreguiça-te a meu lado todo nú
e deixa que eu me mate em ti
de prazer em carícias prolongadas
de loucura.
.
Deixa-me amar-te
ao som de um Bolero de Ravel
e, deixa-me encaixar em ti
com a vontade férrea
de voar-mos juntos pelo mar
e inventar um éden só nosso.
.
Deixa-me cheirar teu corpo
e teu odor inconfundível
de desejo aberto e receptivo
aos meus ataques consumados
de delírio arrebatado.
.
E que o som da melodia
seja o refrão dos ecos que
na manhã alvoroçada
nos ruídos que não conseguimos refrear
nos corpos que unidos estão
em combustão desenfreada.
.

© Piedade Araújo Sol 2012-06-12
Foto : macieknowak

terça-feira, 5 de junho de 2012

Saí para a tarde


Saí para a tarde a querer enjeitar as cores com que o dia acordou.
Cinzento e desbotado, num tom assustadiço, perplexo e algo frio. 
As cores desafiaram-me a imaginação e dei por mim na orla da praia, 
a brincar com as areias em cores neutras e só minhas.
.
Dormiam sossegadas 
Ninguém se preocupa com as cores das areias.
. 
E pensei no homem que dormitava sentado no banco em frente ao mar 
Será que sonhava, 
Com cores ou com outras coisas mais inúteis...

Questionei às ondas  
Agitadas e inquietantes em seu bailado salino.
. 
Não devia sonhar, porque como um sonâmbulo sussurrou:

És fragmento de sonhos e sonos 
Acorda-te e veste-te de algas 
E aventuras 
És um ícone deambulando 
A tua luz deu cor ao meu dia

Amedrontada 
Voltei a querer enjeitar cores, palavras e utopias 
E o homem da praia ajeitou o corpo 
E voltou a dormitar no banco em frente ao mar.
.
© Piedade Araújo Sol 2012-06-05