terça-feira, 25 de setembro de 2012

Setembro


Setembro cheira-me a mosto e a vindimas.

Deixa-me na pele um sabor morno de dias acabados e de resquícios de sol, e há algo que me fascina e me completa num canto de natureza, que me acaricia.

Finda o verão e o Outono teima em despontar, mas eu tento sempre prolongar em mim o verão que finda no calendário.

Decididamente, este é o meu mês.

Confesso que tenho e sinto sensações ambivalentes quanto ao dia. Este ano calhou-me uma terça-feira e, sem querer admitir, secretamente, gosto que se lembrem de mim nesse dia e que façam questão de que, por algum meio, me desejem um feliz aniversário. Gosto de sentir o vibrar do telefone e a chegada de uma SMS e admito que gosto de ler as palavras que me acarinham, pois fico ali enternecida como uma adolescente.

Há os que deixam passar a data e, dias depois, se desculpem porque não tiveram tempo.

Tempo? Por vezes bastam uns míseros minutos…

Quem se manifestou é sinal que estou presente nesse dia, quem não se manifestou, não lembrou, ponto final, passo em frente, finito.

Enfim.

Por mim, Setembro será sempre o meu mês!

(calhou numa terça-feira, mas não foi hoje)  

© Piedade Araújo Sol 2012-09-25


Etiquetas: ,

terça-feira, 18 de setembro de 2012

às vezes nem sei porque escrevo





às vezes nem sei porque escrevo.   muitas vezes é como uma carência, de plantar palavras, como se lança sementes na terra.  usualmente , depois é a época da sementeira, e eu, não sei ainda se nas palavras consigo plantar algo que alimente quem lê. não sei!.
respiro e escrevo palavras que debitam sentires, por vezes efémeros e por vezes,
pincelo cores nas palavras que debito e que ninguém (por vezes) entende.
palavras que lembram o voo dos pássaros
que lembram sal e lágrimas, que ficam submersas em charcos
de mágoas indecifráveis
estrofes sem rimas, com sentido dúbio,
com sensibilidade à flor da pele
às vezes, não sei porque escrevo
pingos de versos sujos de tinta.

talvez seja altura de parar.


© Piedade Araújo Sol 2012-09-18
Foto : GOYART

Etiquetas: ,

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Revolta





Há uma revolta grande, no canto do meu País
Existem lágrimas, mas os olhos já estão secos
E apenas se agiganta esta revolta em mutismo reprimido
Acorrentado em palavras caladas em olhares de mágoas
E desalento
Já não sei quem sou no meu País
Perdi a identidade – roubaram-ma
Como me roubam aos poucos a dignidade de ser gente
Ando por aí sem nome
Sem passado e sem futuro
Como um indigente sem pátria nem lugar
Fogem de mim memórias e pensamentos sãos
Ando assustada nas brumas dos dias
Onde a luz que ilumina a cidade grande
Deixou de ser azul e se tornou cinzenta
Em fúria de ocasos sem ocasos
Não há maior dor que aquela que se
Solta em silêncios amordaçados
Nos dias desfiados sem horizontes
.
Há uma revolta – grande – tão grande
No canto do meu País
Que nem um fado é capaz de expressar



© Piedade Araújo Sol 2012-09
-11

Etiquetas: ,

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Na hora dos pássaros



Para E.

Na hora dos pássaros.
Como quem deita sementes à terra em época de sementeira.
Andei a semear sonhos!
Entre o fim da tarde, mergulhei inteira no eco que as ondas do mar conduziam ao meu mundo (onírico) e meus sonhos, revolutearam, ganharam cores e sons.
E os pássaros sorriram coniventes do meu desassossego.
Amanhã vou semear realidades. Se não se concretizarem.
Não me importo!
Volto a semear sonhos
Na hora dos pássaros.
.
© Piedade Araújo Sol  2012-09-04