terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sem que saibas



Sinto um eco no medo das saudades 
que gotejam em flocos de pétalas a sangrar, 

flores e espinhos de todos os sonhos esventrados 
na míngua de cada estação 
no ciclo de marés nas praias da minha imaginação agitada. 
.
A utopia é um contorno enigmático 
que penduro em telas pinceladas nos meus olhos
enquanto te vejo na orla do Tejo,
que sabiamente eu confundo com o mar 
e onde tu sorris 
com a candura das tardes mortas em ocasos dourados. 
.
O teu rosto traz a placidez 
de todos os olhares que inundam as minhas cores em ti, é um mar onde me perco 
em toda a sua beleza serena, 
tantas vezes engolido pelos labirintos das marés.
.
Serei a musa que te inspira e se instala em ti, 
que te acaricia com as cores que o rio emana, 
que se abriga nos aromas da tarde e se enfeitiça com o teu sorriso 
das minhas cores pintado. 
.
Serás o maestro da partitura completa, numa ária 
em que os meus dedos dedilham o piano que eu guardo 
sem que saibas. 

© Piedade Araújo Sol 2012-11-27

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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ocaso



O som das gaivotas desfiando a tarde
O fundo do horizonte a rendilhar
A névoa que se avista
O delírio do mar em convulsões de marés
O desvario da imaginação
O sonho que os olhos do poeta pintam
Sonho sem o ser?
Vá se lá saber...se nem ele sabe.

Sabes, poeta?
Ainda te espero, a declamar
Versos resgatados das areias e
levantados do chão.


Nota O Rogério Pereira http://conversavinagrada.blogspot.pt/  fez um comentário e assim se fez poema a 2 mãos.
Poema em Parceria de Rogério Pereira e
© Piedade Araújo Sol 2012-11-24

terça-feira, 20 de novembro de 2012

As Palavras




As palavras – as minhas – nunca vão caber no poema que te faço.
Não existem palavras para que eu consiga preencher todos os espaços
desencontrados do poema
e ficar satisfeita, que está acabado e completo.
Nunca estará.

Por isso, os meus dedos ficam lassos e estendem-se sem intimidade

nas letras cheias de magia e luz, como os raios de sol,
sobre a areia quente
e por vezes molhada e fresca
como as vagas que a beijam suavemente ou agressivas.

E, da chuva que cai em grossas bátegas sobre a praça,
eu sinto o cheiro que gostava vindo do bosque cheio de segredos e ecos do vento,

vestígios de vida
de infância
de explosões de sentimentos.

As palavras faltam-me e, no entanto, deambulam
nuas e cheias de humidade das nuvens que se formam na saudade de mim,
sem saber como fico com os dedos sujos
de palavras que me queimam e que eu não quero revelar.

.
© Piedade Araújo Sol 2012-11-20

oleo tela2000 vino morais
http://vinoartes.blogspot.pt/

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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Sei-te do corpo


Sei-te do corpo
E do nome
Das noites e dos dias em franjas
Bailados
De sonho e saudade
.
Não sei do tempo, ou do espaço
Em nós, mas sei das alvoradas
.
E das labaredas
Em beijos incendiados
Em alegria,
Palavras
Caladas
Grifadas
Palavras esquissas
Melódicas
E a necessidade da noite e da lua
E depois o sol e o mar
O mar
E o olhar, aquele olhar
Que em mais ninguém encontrei
.
Piedade Araújo Sol  2012-11-12



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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Esta noite



Esta noite,
num delírio alucinado
a caminhar por precipícios,
sonhei que o mar me tragava
e eu me perdia nos labirintos
de Posídon
vestida de algas verdes
e com olhos de sereia.

Esta noite,
um jardineiro de sonhos
semeou debaixo da tua janela flores
que, ao alvorecer, se metamorfosearam
em pétalas e geraram um tapete
onde tu mergulhaste, em vez de andar
flutuando num manto de carícias
e odores alienígenas e odoríficos.

Esta noite,
eu acreditei que na nudez
em que o teu corpo se vestiu
à minha espera,
eu tinha barbatanas de peixes
e podia nadar livremente,
mas algo me impedia
de te alcançar no manto imaculado
das flores tresmalhadas.

Esta noite,
o sonho foi sonho sem o ser e,
quando acordei, era apenas um
pesadelo no desvario da imaginação
vestida de algas verdes.

 E com olhos de sereia.
.

 © Piedade Araújo Sol 2012-11-05




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