terça-feira, 28 de janeiro de 2014

o vestido novo


O vento asfixia os plátanos da praça,
e a cortina oscila subtilmente,
sobre a alvorada que desponta,
com odor a terra molhada.

Visto-me tranquilamente,
na penumbra do quarto,
e um frio sulca-me a pele,
que se contrai desprotegida.

Saio para a rebeldia do dia,
com os olhos transbordantes,
de luz e serenidade,
silenciosa com passos meninos.

Percorro os meus dedos  na fímbria do vestido vermelho (novo)
que nem reparaste,
na urgência da saudade.
.

©Piedade Araújo Sol 2014-01-28

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

os teus lábios sabem sempre a romãs

Agnieszka Motyka

Sento-me junto da janela e sinto que,
tenho as memórias quietas,
repletas de murmúrios ecoados em ventos
sons e odores.

Eu dizia que os teus lábios sabiam sempre a romãs.

As memórias retomam a cadência
de um abraço dado, com afecto
na placitude do tempo que se alonga,
em mim e nos prazeres da vida.

A querença que se derrama nos confins,
do sabor de um beijo,
e de um bálsamo a romãs,
que retenho em mim.

As palavras são desnecessárias,
e logo a primavera trará os aromas,
das flores a desabrochar.

©Piedade Araújo Sol 2014-01-20

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Poema inacabado II

Jay Fleck
Um pássaro teimava em voar, sobre um poema
inacabado
(não entendi, porque queria ser desigual)
Porque se desvendava
Se no entanto sempre que podia,
escondia-se numa máscara que não era a sua.
.
Segredo de ser,
de vestir palavras desnudadas,
simples,
e nem sempre benignas,
nem agressivas,
apenas palavras de mel e jasmim,
ou sal e lágrimas, ventos e tempestades.
.
Aquele pássaro insistia em fazer tudo ao contrário dos parâmetros
normais.
.
E um dia incompreendido e só,
sacudiu abruptamente o pó das asas,
e voou sem medos sobre o poema,
inacabado.
.
Dizem que vagueia desemparelhado e sempre em círculo, 
e que,
até tatuou uma flor no bico.
.
©Piedade Araújo Sol 2014-01-14

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Momentos

Crystal Chan
A noite escoa as suas cores para dentro de mim.

Possuo um coração pequeno, e grande
em seu afecto.

Mareiam barcos de papel
em mar azul, estranho na sua magnificência
e na sua beleza ímpar, e eu sonho o rio 
que sempre me inspirou na sua água doce, quase salgada
quando no términus beija o mar.

Retrato de um beijo, talvez fatal, talvez carência.

A serenidade convida-nos a espreitar o fim de um dia.

E a lua silenciosa descansa pachorrenta
na sua secreta missão de inspiração dos Poetas.


©Piedade Araújo Sol 2014-01-07