terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Regresso

Saul Landell
.
Regresso  do  limbo e, do medo
da dor infligida,
desembrulho morosamente os dias.
Como réstia de vida,
acrescento-lhe a seiva das plantas
e o sabor dos frutos da época.
Numa espiral de ecos,
recolho as partículas de tudo que me resta
e o frio agreste de Janeiro é apenas uma circunstância
de momentos onde por vezes ardo
no calor sincero dos afectos.
E é no naufrágio, onde só eu sou náufrago,
que eu acredito e respiro a vida como um galardão
de todas as cruezas e deleites que ainda
me faltam habitar.


©Piedade Araújo Sol 2015-01-26

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Pausa Forçada



Se cá voltares e não me encontrares, não te surpreendas.
Não quero ir, mas há acidentes de percurso que obrigam a que assim seja
Vou com a voluntariedade que o corpo precisa mas não quer, e talvez volte, outra vez, sangue, cartilagem,ossos e corpo
Recorda-me como se recordam os pássaros que um dia vão e voltam.
Ou não!
E não lamentes nunca o meu silêncio.
É obrigatório e necessário.
Se depender de mim farei que seja breve.
E quem gosta de mim, voltará sempre.

©Piedade Araújo Sol 2015-01-12

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

em Janeiro


maszu
à memória de meu pai

morreste-me neste mês em dia primeiro de há tantos anos, e eu acho que me morres novamente em todos os meses de Janeiro que vieram depois da tua morte.
o tempo passa e atenua a dor, mas a saudades fica entranhada e presente neste e em todos os dias que se sucederam depois.
é jeito meu, talvez seja, e isso não me comanda os sentires.
sei que os barcos que faziam parte da tua vida, já não existem.
mas sei que o mar é o mesmo.
sei que a tua gargalhada já não ecoa na casa grande.
sei que tudo é uma transição,e  a vida que não é,nem nunca será nossa.
sei que morreste-me e isso ninguém pode negar.
mas que a vida seja sempre uma memória presente , porque mesmo com saudade, eu não quero esquecer-me nunca de ti.
.

 All rights reserved ©Piedade Araújo Sol 2015-01-01