terça-feira, 26 de abril de 2016

desaguaram em todos os desencontros

Mariska Karto
das palavras levadas na maciez (?)
dos silêncios,
desaguaram  todos os desencontros.
nas escadas em caracol,
da casa abandonada da praia
nenhum gesto ficou.
apenas um bocado de jornal desbotado pelo tempo,
e que o vento não levou,
jaz  morto e contorcido entre beatas de cigarros.
e em cada primavera nasceu uma flor,
que de estação em estação, resiste teimosa às intempéries do vento
que a chicoteia juntamente com a areia.
mas, o pior dos desencontros,
é este fragmento estilhaçado,
numa memória em lamento calado.
num sonambulismo de sombras e fantasmas,
os vestígios que  ficaram alongados no chão,
são apenas uma espécie de monólogo.

©Piedade Araújo Sol  2016-04-26

terça-feira, 19 de abril de 2016

Tanto de ti ficou


Katia Chausheva
Guardamos os sorrisos, no íntimo da noite
e crescemos nos dias loucos,
quando a magia do momento,
tomava conta de nós.

E nada sabíamos  dos abismos,
dos sons, e da cor,
em que tecíamos os nossos sonhos,
embriagados de constelações.

Tantas vezes,tantas,
demos as mãos, que confundimos
os nossos dedos,a pele,
e por vezes o olhar.

Tanto de ti ficou.

©Piedade Araújo Sol  2016-04-18

terça-feira, 12 de abril de 2016

O silêncio quebrado

Christine Ellger


O silêncio quebrado
porventura por um lento volutear,
ou talvez um sussurro célere,
na limpidez do papel que escrevinhas,
com um prazer quase obsceno ,
se assim se pode circunscrever.

as letras seriam perfeitas
isentas de dor, ou revolta
a paz seria branca, ou de uma cor inusitada
mas clara, muito clara
a desfazer-se em claridade,
que ofuscaria a retina frágil dos olhos.

escreves numa folha incolor,
e sabes que por mais palavras que registes,
para ti a folha estará sempre branca
imaculada, mas infiltrada em qualquer espelho
que desenvolverá,
um rio cheio de vocábulos em imagens,
que só tu poderás decifrar,
em abismos de insónia e medo.

©Piedade Araújo Sol 2016-04-11

terça-feira, 5 de abril de 2016

Devagar para que o medo

Josephine Cardin

Devagar
e as mãos mergulham receosas
e inexperientes
vagarosamente
tremendo.

Devagar para que o medo
sucumba ao toque
e o nó entalado na garganta
seja apenas uma mera impressão
na noite
que se abateu sobre a claridade do dia.

Réstias de amor
aos bocados
que se misturam
com o odor das magnólias
defronte da janela.

E no silêncio
guardamos a voz dentro da boca
para que o medo seja apenas
um  subterfúgio
que ousamos aniquilar.

E o abismo em que mergulhamos
enlouquecido pelas cores do arco iris
e o adejar dos cisnes
no parque
é profundo e estranhamente leve.

Já parou de chover faz tanto tempo
e já é dia
e nem sabíamos.

©Piedade Araújo Sol  2016-04-04