terça-feira, 28 de junho de 2016

deste lado...

Saul Landell
deste lado…hoje… sou a ave alienada
qual pássaro com o olhar tresmalhado,
sobre a terra e nesse horizonte, que percorrerei
com o meu voo tardio,
e lasso.

o tempo é assim,
uma espécie de legado que não sabemos,
nem queremos saber a finitude,
dos voos improváveis e quiçá,
irrealizáveis.

é tanta a poeira e a asa está ferida,
não sei se resiste a mais um voo,
talvez  a ventania ajude,
e me conduza nesse céu e nesse voo,
que ainda quero esvoaçar.

©Piedade Araújo Sol  2016-06-28

terça-feira, 21 de junho de 2016

Frente e Verso


Quando quis regressar,
perdi-me em labirintos escusos,
mas, com a força que detinha,
sem saber,
ancorei sempre nalgum porto,
mesmo que não fosse o meu
e, por vezes,  desconhecido.

Construí pontes flutuantes,
onde só quem as atravessava era eu,
e, quando a noite era escura,
imaginei pirilampos nómadas
a marcar as margens,
e em  meus olhos as estrelas
fizeram  a sua luz alumiar o caminho.

Sacudi a poeira entranhada nas mãos,
e na pele.
Fui caminhante,
fui aprendiz,
fui grito ecoado na planície,
fui silêncio golpeado,
fui ave arribada ao chão.

Hoje,
no outro lado do tempo,
da maresia,
e do vento,
da sombra do espelhado
es-ti-lha-ça-do, (eu)
em  frente e verso.

©Piedade Araújo Sol  2016-06-21

terça-feira, 14 de junho de 2016

pintar palavras

Brooke Shaden

por vezes pintar palavras é,
muito mais que o poente quando desfalece,
no declínio do dia.

hoje as palavras não me sentem cores,
nem voos,
nem memórias.

perderam-se no silêncio dos meus passos
desencontrados,
e desse castelo de fantasia que ousei criar,
nada sobrou.

nem um sabor das palavras que garatujei,
em pedaços de papel,
e que espalhei no fundo de um gaveta sem fundo.

com hiatos,
de onde talvez,
sopram brisas em forma de vento.

por vezes pintar as palavras,
em forma de poema,
é muito mais melancólico do que concebemos.

©Piedade Araújo Sol 2016-06-14

terça-feira, 7 de junho de 2016

dizes

Saul Landell
dizes que vais partir,
voar noutros céus,
desenhar outras paragens,
num outro lugar do mundo.
dizes que nem sabes,
o que te espera para lá do horizonte,
mas que tens de exercitar,
as tuas asas para além do teu país.
dizes que não te iludes,
e que as palavras já não fazem eco,
que os sorrisos já não,
habitam em todos os rostos.
e o que não dizes eu até congemino,
que o teu coração está oprimido,
e que as palavras mesmo tresmalhadas,
fazem sempre falta.
na ausência delas, e apenas no silêncio,
eu sei que não dizes ,
que os teus passos estão soltos,
mas as tuas asas estão enlaçadas.

©Piedade Araújo Sol  2016-06-07