terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A Insónia

Anka Zhuravlva
        Sobre o sono
Ausente e dolente
A insónia insiste
Branca. Deitada. Vestida
E a noite obscura
Densa… assiste
A parede branca, gelada
A cabeça encovada na almofada
O frio a desgastar a pele
E vai
Desfiando pérolas do fio
Que guarda na memória
Os olhos cerrados
O corpo extenuado
Em posição fetal
O cheiro das magnólias
Cheias de orvalho
A manhã que desponta
O vento que fustiga
E assobia em constante lamento
E o dia nasce grávido de sol
© Piedade Araújo Sol 2017-01-29

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Em Janeiro

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Em Janeiro
com o frio a infiltrar-se nos ossos
Lisboa não cabia nos teus olhos
quando te perdias pelas ruelas desconhecidas
e a ansiedade te invadia
o rosto incendiado de ternura.

Quando olhavas para as montras
e ajeitavas os cabelos de chuva
descaídos pelas costas
não sei que imaginavas
quando com o meu casaco
te cobria o corpo franzino a tiritar.

Os teus sonhos talvez fossem
os barcos que navegavam no Tejo
e as tuas mãos que entrelaçavas nas minhas
nas noites em que cintilavam estrelas que eu nem via
e tu sorrias calada.

Eu não sabia -ainda - que em ti existiam
sabores de sentimentos ocultos
e um sorriso de sal e algas tão grande
que sobrevive no tempo e nos teus olhos,
e que no teu ser os afectos estão entranhados nos ossos.

São eternos como os barcos do Tejo.

© Piedade Araújo Sol 2012-01-23


(Reeditado primeira publicação em 2012-01-24)

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

às vezes

Olga Astratova

às vezes ainda pego nos pincéis,
quando fatigada estou das fotografias e da escrita,
dissolvo cores e pinto coisas sem nexo.
sem mágoa sem culpa,
apenas abstractos como uma metamorfose, ou catarse
às dores que ficaram desse mês de Janeiro de todos os anos que se sucederam.
às vezes entro na Basílica, 
e em monólogos que só eu e tu entendes (entenderias)
falo contigo, para amenizar as cicatrizes que ficaram.
e saio com a alma mais leve,
e o coração fortalecido, mas não esqueço,
dia 1 foi o dia que partiste e dia 11 era o teu aniversário.

(em memória do meu pai)


© Piedade Araújo Sol 2017-01-11

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

areias

   

Areias na minha mão
que a onda molha e beija
em vão
como se não fosse o tempo
ou o vento em contra mão.

E a brisa que rente
à cara
fustiga como se vento
fosse castigando
quem se sente pecador ou não.

Abro as mãos e a areia molhada
cai abrupta na dança
que entrelacei nos dedos
desprotegidos da sensação
e da ilusão, dançando no chão.

E fica o perfume do mar
que nas narinas se prende
na quimera de saber ser aroma ou não
melodia sem pauta
sem cifras sem sequer ser canção.

Areias na minha mão
agora, apenas  vestígios são
e ficam deitadas na praia
espalhadas e sossegadas
esperando o beijo do mar ou não…

©Piedade Araújo Sol 2017-01-10

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

pazes

sasu riikonen
entra no dia como um peregrino
e o dia entra
como um refúgio apaziguador.
e o tempo deixa espaço
para  as pazes
com os fantasmas.

depois,
a noite pode chegar…

© Piedade Araújo Sol 2017-01-03