terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

A casa

neil driver

Na solidão da escuridão que tombou sobre o vale
E sobre a noite
Alguém reclamou a minha presença

Eu estava ali, sem estar
Mas, tanto tempo se tinha passado
Tantas luas outros tantos sóis
E tudo seguiu o seu curso normal

A água do regato não parou de correr
E os pássaros, voltaram todos os dias
Pelas seis horas da manhã, para a sua sinfonia
De chilreios cadenciados


A casa estática ainda existe
E as maças caíram desamparadas
Sobre o chão estéril

Hoje  a manhã está leve como seda
Com o sol a entornar seus raios em todo o seu fulgor
Enlaçando todo o vale

A  minha voz é um bocado de silêncio
Que tenta aquietar o desconforto que me assola
É preciso esquecer o abismo do tempo

Desenho labirintos desordenados de refúgios
E prendo o olhar na luz que pincela o horizonte

© Piedade Araújo Sol 2017-02-27

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Não olhes as minhas mãos

Anka Zhuravleva
Não olhes as minhas mãos,
não tentes espiar os silêncios,
nem desvendar os segredos dos devaneios,
que ainda guardo nelas.
É muito estranho,
mas são elas que muitas vezes – tantas vezes,
escondem no bolso do meu vestido,
os sonhos que ouso sonhar.
E não te inquietes com as rugas vincadas,
que já sulcam o meu rosto,
são mapas soltos, sem nada para analisar,
apenas estórias passadas.
E como uma oferenda,
olha apenas o poema e sua mensagem,
que as aves deixam soltar,
no seu voo rítmico e sublime.
© Piedade Araújo Sol 2017-02-20

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Mensagem

 Diggie Vitt

Dizes que já não converso com as palavras
mas, eu aprendi que sem elas não sou ninguém
por isso mesmo que o comboio passe
e leve a passageira que por vezes sou eu
digo que nunca estou só, porque aprendi a viver
em função delas -  as palavras.
Saem por vezes amargas e cheias de desdém,
outras vezes,  dóceis deslizando em cascata
como as águas.
E o tempo passa voraz,
ou eu passo pelo tempo, mas elas ficam
aquém ou além da margem.
Dizes que é assim, que elas apaziguam o dia,
e na noite em que os silêncios imperam,
elas podem desobstruir os sonhos,
e voarem para além da escarpa,
onde o calor fenece e o frio golpeia.
Mas, não me peças palavras que não lês
ou lês, e finges que não entendes,
porque serei eu em completo desalinho,
que as guardo cá dentro,
e quando  explodem , não é no peito
mas na folha inocente que tenho sempre
sobre a mesa…

© Piedade Araújo Sol 2017-02-13

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

das palavras II

desnudei-me das palavras
dos momentos
dos acasos
e senti meu corpo puro...

lavei a minha alma
e no meu olhar
consegui abranger
a plenitude
desta paz...

enlaço a ternura
do momento
do ocaso
e visto-me de palavras….
.
© Piedade Araújo Sol Dezembro/2006 

(Foto Lost de Paulo Madeira)
Reeditado