terça-feira, 27 de junho de 2017

por vezes a saudade é boa...

karen hollingsworth

os dias passam velozes e é à noite,
dentro do silêncio que se impõe,
à secreta construção de tudo
o que é doce,
e tão necessariamente imóvel,
que sem querer eu abro as gavetas das memórias,

e sobra, sempre  a saudade com seu manto diáfano,
que cobre os meus dedos insurgentes,
que escrevem lentamente,
ante a insónia cavada e constante,
como um rochedo,
estilhaçando a nitidez da manhã,

e eu restituo ao silêncio a nudez,
das cores entre o verde e o cinza,
e a saudade ganha perímetros de maciez,
num mar imenso em que me afundo lentamente,
e em que consigo emergir incólume e purificada.

por vezes a saudade é boa e doce...

©Piedade Araújo Sol 2017-06-26

terça-feira, 20 de junho de 2017

O garrote do fogo

MIGUEL VIDAL
no meio de tanta tragédia
não há palavras possíveis
hoje só uma imensa tristeza
tomou conta de todos nós…

©Piedade Araújo Sol 2017-06-18

terça-feira, 13 de junho de 2017

palavras esquivas

Anka Zhuravleva

emudeço em mim este silêncio em que mergulho inteira,
este calar em expiação de causas,
em que não quero premonições,

silêncios que brotam à escassez,
das palavras que se tornaram esquivas,

que ardem violentamente na garganta,
seca,
e que abrasa em efervescência de decisões,
de conflitos,
e de caminhos ainda e sempre por desvendar.

©Piedade Araújo Sol 2017-06-12


terça-feira, 6 de junho de 2017

este poema

Maja Topcagic

este poema,
não pode ser só mais um poema,
nem será.
este poema é uma parte de mim em ti,
e eu estendo-a na planura do papel,
como uma mãe deita um filho no seu leito com mil cuidados e ternuras sem fim.
este poema escrevo sem letras pensadas nem procuradas,
são só as letras que lês e não entendes porque as lês,
são um paradoxo de palavras enfeitando os teus cabelos finos e macios como veludo,
que se confundem nos meus dedos entrelaçados na madrugada que caíu sobre mim e sobre nós.
este poema lembra o tempo junto ao rio,
quando eu não sabia que o rio estava perto de mim e de ti,
e que o poema nem existia na planura do papel.
por isso e por tudo o que não sei explicar e tu não irias compreender,
este não é mais um poema é só um e mais um que guardo para que o lances ao rio...



©Piedade Araújo Sol 2006-09-16
Reeditado

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