terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Transparências




Olho para dentro de ti, sem que percebas. És forte, e ao mesmo tempo tão vulnerável. Em ti existem sempre duas pessoas. Sempre!
Por vezes sei que me magoas, magoando-te. Contradição diria. Pois persisto sempre a ter um sonho contigo, mesmo sabendo que é isso mesmo, e só isso. Um sonho.
Olho para dentro de ti, e tu nem sabes que eu sei, a posição exacta que dás à tua mão ao pegar no copo da água que bebes. O trejeito que fazes quando algo não te agrada, a expressão facial que exprimes quando te zangas, a cor metamorfoseada dos teus olhos quanto estão triste ou alegres.
Olho para dentro de ti, e sei que por vezes sou ainda mais impulsiva que tu, e que por vezes és ainda mais imprevisível do que eu ou vice-versa.
Olho para dentro de ti e afinal tu nem sonhas, como és tão transparente para mim….

© Piedade Araújo Sol   2006-07-03 

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Cara ou Coroa

Istvan Sandorfi
Tenho o reverso da moeda
Aperto em meus dedos
O resto da esperança
De um circulo que
Não acaba hoje
Nem amanha...

Mas...

Se afinal tudo tem um fim
As garras do tempo
Serão momentos
Em constante rodopio
E encolho-me
No meu casulo...

Cara ou coroa!

©Piedade Araújo Sol  2006-10-12 (reeditado)

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Palavras

Diggie Vitt

Por vezes as palavras ficam guardadas,
e tantas vezes guardam segredos,
guardam alegria e também as mágoas.

Mas, as palavras precisam ser catapultadas,
resgatadas ao silêncio que impera,
quando o orgulho as estrangula.

Não deixes que elas fiquem sem cor,
molda-as com ternura e espalha-as por aí,
mesmo que não lhe dês nenhum destino.

© Piedade Araújo Sol 2018-01-15

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

sonhos pintados

Eduard Gordeev

nos rostos das pessoas
que se cruzam comigo
em pressas a lembrar
fugas improvisadas
em atropelos de momentos
no anonimato
que a cidade me traz
consigo pintar sonhos.

alheios ao meu devaneio
eu confundo  traços
na paisagem quieta
outras vezes calada
em dias de sol
e  também de neblina.

ninguém precisa saber
que os sonhos sempre me acompanham
que os entrelaço e desfaço
que os dissolvo na minha mente
em cores suaves, outras vezes fortes
e outras órfãs de colorido e sem memórias.

e, se  a tela que pinto não é visível para os demais
não é intenção minha ___ nunca  é.

Foi pintada numa cidade em completo desassossego
e no entanto
entranhada de melancolia.

© Piedade Araújo Sol 2018-01-08

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Véu de pranto e saudade

Andrew Wyeth
À memória do meu pai

É Janeiro!


Neste dia, hoje e sempre, é como se morresses outra vez. E outra. E mais outra.

É como se os barcos estivessem no mar, apenas porque tu não passas no cais e eles estão esperando por ti.

Gostava de acordar novamente com o eco da tua gargalhada a ressoar na casa grande e a perder-se na planície, mas sei que é impossível.

Nunca mais ouvirei a ternura da tua voz, é um facto consumado.

As memórias estão mais esbatidas, é certo, mas o silêncio e as saudades de ti, doem bem no fundo de mim.

Mas tu dizias que não me querias triste e, sabes, eu não estou triste, é apenas saudade, porque depois de tantos anos ainda me faz falta o teu abraço.

© Piedade Araújo Sol 2013-01-01